quinta-feira, 18 de janeiro de 2007


Nem todas as imagens são ícones

















































Mas todos os ícones são (também) imagens

Em Português o campo semântico de imagem parece ser mais vasto do que o de ícone. É o que parecem sugerir as imagens retiradas de um documentário recentemente apresentado na RTP2. Assim, o campo semântico do conceito "imagem" inclui o de "ícone" mas não se lhe reduz. Neste, a imagem tem a propriedade de evocar realidades que lhe são estranhas, isto é que não são perceptíveis simplesmente apenas pelo contacto com a sua natureza sensível. Nem todas as imagens possuem este poder evocativo ou esta "densidade".





As Limitações da Mimesis





















O que julgo fundamentar a opinião de Baudrillard é o facto de que, na questão iconoclasta dos primórdios do Cristianismo, ter havido a consciência do valor autónomo das imagens face ao seu referente. A vida própria das imagens, implicitamente reconhecida neste cisma, é o melhor desmentido a um conceito que reduz o seu valor às suas potencialidades miméticas. O poder das imagens não assenta, na sua capacidade de imitar o real concreto e sensível, mas na sua aptidão para evocar a representação mental que dele fazemos. Era o receio de que as imagens tomassem o lugar do Deus único para se constituírem, elas próprias, em entidades de culto, à semelhança dos cultos pagãos tão duramente combatidos nos séculos anteriores, que levou a esta desconfiança. Ao negarem-nas os iconoclastas reconheciam o seu perigo e implicitamente o seu valor.
O texto refere “(…) as limitações da mimesis também estão patentes na variabilidade (diacrónica e sincrónica) com que as mesmas imagens são interpretadas.” Simetricamente poder-se-ia igualmente afirmar que essas limitações também se revelam quando imagens muito diferentes, produzidas com mil anos de diferença, desfrutam de um reconhecimento idêntico. É o que acontece com as representações de Cristo no Ocidente cuja codificação se alongou por alguns séculos. O seu poder evocativo manteve-se apesar das diferenças que manifestam.




Amplificação e redundância


















Numa recente série televisiva “As Origens da Arte” um investigador, oriundo da área das ciências biológicas e comportamentais, declarava que um dos impulsos constantes da actividade artística seria o do princípio da amplificação. Isto é, do exagero de certos aspectos que valorizamos no real. Ora parece ser isso mesmo que se verifica na imagem do rinoceronte.
O que chama a atenção nesta imagem é a profusão de pormenores que supostamente o caracterizariam. Este facto evidencia uma necessidade, na época, de uma descrição exaustiva. Tendo sido o seu objectivo ilustrativo, mostra que o público do séc. XVI desconhecia o referente (provavelmente uma imagem mais esquematizada não seria verdadeiramente apreendida). Hoje, com um conhecimento generalizado proporcionado pela fotografia, cinema, etc esta imagem surge como que “redundante”, além de que as suas inexactidões teriam um escrutínio imediato.